GT Teorias do Espetáculo e da Recepção – Anais da V Reunião Científica
- Revisitando o doente imaginário de Molière: tradução, carnavalização e sátira no universo amazônico.
Adriana Delgado Santelli
Resumo: Com o presente trabalho pretendemos analisar a tradução da obra O doente imaginário de Molière, realizada pelos docentes da Universidade Federal do Acre – Humberto de Freitas Espeleta e por mim (Adriana D. Santelli). Essa tradução centrou-se na ênfase à recepção da peça francesa no universo amazônico, isto é, procurou-se apontar possibilidades de uma tradução que estabelecesse um elo dialógico entre duas culturas: a francesa do século XVII e a amazônica contemporânea. Pretendemos estudar o desafio de fazer desse texto teatral o fio condutor para o diálogo entre culturas aparentemente diversas, abrindo, assim, um diálogo intercultural/transcultural e revisitando a formação identitária do local onde nos encontramos, sem desconsiderar o contexto de criação original (Francês). Discutiremos a idéia da tradução transcultural, que implica em falar de cultura, identidade, alteridade e tradição. A tradução envolve diferentes maneiras de manifestação da alteridade, cria-se uma via de mão dupla entre as culturas, uma a negociação permanente entre a identificação e o estranhamento, cuja necessidade de construção apaga a hierarquia entre as culturas, não havendo privilégios e sim uma negociação na recepção. Esse processo só se concluirá e se efetivará na encenação (em curso), a partir do diálogo entre os gestos corporais e os demais signos que o processo espetacular oferece. No contemporâneo as linguagens perdem suas fronteiras, possibilitando esse tipo de recepção “negociada”. Nesse contexto, novas forças de criação fragmentárias, díspares, irregulares se confrontam, se afirmam e se matizam ou não, dentro da complexa estrutura da pós-modernidade. Por isso, as perspectivas para a interpretação do objeto artístico são amplas, bem como seu processo de criação.
Palavras-chave: tradução, identidade, transculturação.
- Um portal de história do teatro como tarefa criativa, artística e coletiva
Alexandre Mate
Resumo: Fayga Ostrower (1984) defende a tese de que o homem cria, não porque goste, mas porque precisa. O ato de criação – que se caracteriza por processo de cotejo e de seleção entre as objetividades e subjetividades da ideia sensível e do repertório mediado ou não pela experiência pessoal – materializa-se pela produção da obra artística como objeto estético e comunicacional. Maurice Halbwach (1990), investigando os processos por meios dos quais a dialética da memória se estabelece, afirma que toda memória é coletiva, histórica e social. Deveria aliar-se em importância à percepção da necessidade do criar à do conhecimento histórico. Entretanto – por certa lógica, esquadrinhante e classistamente ideológica – a totalidade das experiências, sobretudo populares e tantas outras amparadas em pressupostos brechtianos, não têm guarda documental. Nesse sentido, do mesmo modo que todos os processos artísticos são criativos, os históricos também precisariam sê-lo. Bertolt Brecht, por meio das Histórias do Sr. Keuner, no texto “Originalidade”, afirma que certo filósofo chinês, na vida adulta, escreveu um livro no qual nove décimos eram citações. Por falta de espírito e por certa apologia ao ineditismo, entre nós, afirma BB, tal façanha seria impossível. Tais apologistas, supostamente ao apresentar “as suas ideias”: “Desconhecem edifícios maiores que aqueles que um indivíduo é capaz de construir.” Motivado por tais considerações e também pela carência de materiais documentais, coordeno no Instituto de Artes da Unesp, campus da Barra Funda, um processo de construção de Portal de História do Teatro, abrigando aspectos do teatro popular (sobretudo de rua) e de experiências ligadas ao teatro latino-americano. O “portal-edifício” como fonte de pesquisa, e não apenas para professores e estudantes, é obra criativa, coletiva e artística.
Palavras-chave:
- Reprodução técnica, Teatro, morte e renascimento
Ana Paula Teixeira
Resumo: Os meios técnicos de reprodução da obra teatral – gravuras, pinturas, fotografias, gravações sonoras, filmagens, entre outros – são formas de fixar, inscrever, tentar dar caráter durável a uma ocorrência artística. Desde os registros de rituais deixados pelos homens primitivos às filmagens editadas de espetáculos contemporâneos, os documentos que mostram elementos da obra teatral são importantes fontes que permitem o estudo e desenvolvimento dessa arte. Buscando perceber como essas formas de permanência contribuem com a atividade crítica, com a investigação científica, bem como com o ensino do teatro é que os meios de reprodução podem ser pensados como vida e, ao mesmo tempo, morte da própria obra. Vida por tornar registro permanente alguns aspectos do ato cênico, de forma que possamos realizar um diálogo mais detalhado com os mecanismos deste ofício. E morte, pois, a essência do aqui e agora do teatro, presencialidade que dá um caráter efêmero à cena do espetáculo, uma de suas características principais, escapa a qualquer forma de registro, deixando assim, de ser a obra em si. Na medida em que se tem uma representação de uma encenação específica de uma peça, é fato que esta já não existe mais, a representação exclui a presença para mostrar de outra forma, por outro lado, a(s) câmera(s) impõem um determinado ponto de vista e de seleção. Por estes motivos tais documentos são importantes meios para retomar a obra cênica em sua ausência, ainda que a existência do registro, seja condicionado ao fim da própria obra.
Palavras-chave:
- Da Memória Retida ao Esquecimento Profundo: Rememoração das Primeiras Experiências de Recepção Teatral
Clóvis Dias
Massa
PPGAC-UFRGS
Resumo: Amparada pelo enfoque de Bernard Dort sobre a prática do espectador e pelo conceito de horizonte de expectativa proveniente dos estudos de recepção, a comunicação traz o relato das primeiras experiências do pesquisador como espectador, realizadas ainda na juventude. A partir do exame de documentos pessoais, proporcionado graças aos apontamentos feitos no período, a investigação empírica sobre o tema distingue o que foi armazenado pela memória imediata, o que restou como lembrança e o que se perdeu no passado. Com a reconstituição do horizonte de recepção e a rememoração dessas experiências aparentemente ingênuas, a reflexão procura encontrar parâmetros de articulação entre os pressupostos das teorias da recepção e o processo evocativo na recepção teatral
Palavras-chave: Recepção, Evocação, Memória
- Som, espaço e visibilidade
Geraldo Martins T. Jr.
Resumo: Neste trabalho
procuro analisar as diferentes perspectivas do uso do som em
performance, partindo inicialmente das diferenças entre o
som na performance presencial e na novela de rádio. Indo
além desse contraponto, busco os pontos de
correspondência e as possibilidades de se mesclar em uma
performance duas (ou mais) perspectivas e maneiras de se considerar o
espaço. Para além do áudio como um
acessório da cena, temos o áudio espacializante.
Por outro lado, a construção do espaço
da cena não ocorre somente na esfera da visibilidade. O
entrecruzamento dos múltiplos canais visuais e sonoros
enriquece a montagem de forma a expandir a
percepção desta multiplicidade na cena como um
todo.
Considerando a concepção de diferentes mundos
finitos como províncias de
significação (Schutz), e do efeito dos canais
múltiplos (Goffman), proponho um exercício de
indagação a respeito das possibilidades de
co-existência da cena e do som diante da
noção de espaço e de como este
espaço é criado.
Palavras-chave:
- Entre Vilões e Mocinhas: em busca de uma pedagogia do teatro melodramático
Luciana Hartmann
Depto. Artes Cênicas/UnB
Resumo: Este trabalho é resultante das reflexões realizadas no âmbito da pesquisa “Como se Cria um vilão? Um estudo teórico-prático sobre a construção dos personagens-tipo do Melodrama”, iniciada no ano de 2006, no Curso de Artes Cênicas da UFSM. Este estudo foi desenvolvido com alunos regulares do Bacharelado em Interpretação e Direção Teatral e com alunos voluntários dos Cursos de Música e Artes Visuais e visou a elaboração de estratégias – métodos e/ou técnicas – que fornecessem subsídios para a realização de espetáculos melodramáticos, com ênfase na construção dos personagens-tipo. Contextualizando a pesquisa através de um panorama histórico do Melodrama Francês e da crítica teatral sobre o gênero, o artigo apresenta um relato sobre o desenvolvimento da pesquisa e analisa os resultados alcançados até o presente momento.
Palavras-chave:
- Recepção-Espectador- Teatro alemão-Teatro Oriental
Luiz Cláudio
Cajaiba Soares
apresentação oral
Universidade Federal da Bahia – UFBA
A comunicação visa a discutir alguns episódios no teatro alemão que exploravam as mudanças de comportamento entre a cena e o espectador. A partir da presença de companhias japonesas na Alemanha, para alguns autores, o teatro oriental contribuía com o objetivo de despertar no público um estado letárgico, misto de embriaguês e transe, de deixar a imaginação criativa se desenvolver livremente. Entre os encenadores que sofreram esta influência destaca-se Max Reinhardt, que se empenhou em restabelecer o poder expressivo da cena teatral alemã, redimensionando as possibilidades de significação da cena, solicitando do espectador sua própria leitura, inaugurando um método que combatia a linearidade, a casualidade, a lógica da ação, a predominância do discurso e o logocentrismo da escrita. A montagem de Die gelbe Jacke (A jaqueta amarela) no período anterior à primeira guerra mundial tornou-se um fenômeno. Além de Reinhardt, Erwin Piscator, através do seu teatro político, defendia que o espectador precisava ser “ativo” politicamente, precisava se libertar de sua apatia intelectual.
Palavras-chave: Recepção-Espectador- Teatro alemão-Teatro Oriental
- Participação, observação e relato: Redefinição do conceito de Teoria e implicações para metodologia de estudo de processos criativos
Marcus Mota
Universidade de Brasília
Em recentes abordagens que partem da interação entre Estudos Clássicos e Estudos da Performance, há em curso uma redefinição da atividade da ‘Theoria’ a partir do contexto de sua utilização na antiga Heláde, demonstrando que o conceito abarca uma diversidade de experiências que vão desde o ato de participar de uma procissão religiosa até turismo e reflexão filosófica. Um caso particular das ‘atividades teóricas’ reside na constituição de uma delegação de representantes de uma cidade que partia para outra com o objetivo de acompanhar festivais religiosos. Theoria é a peregrinação, a viagem para o exterior, na qual o viajante se dirigia do conhecido para o não familiar, para, in loco, testemunhar e interpretar os eventos ou espetáculos lá apresentados, e retornar com um relato sobre o que viu,ouviu e entendeu. Esta matriz cívico-religiosa da Theoria desdobra-se em uma série de habilidades, funções e práticas, em um roteiro de atividades que, melhor evidenciado, contribui para se esclarecer os modos de participação e produção de conhecimento em processos criativos.
Palavras-chave:
- Um Elo Perdido: Stanislavski, Música E Musicalidade, Teatro, Gesto E Palavras
Michel Mauch
UFG
Adriana Fernandes
UFP
Robson Corrêa de Camargo
UFG
Resumo: Este trabalho descreve alguns aportes do ator e diretor de teatro russo Constantin Stanislavski (1863-1938) sobre a prática teatral, concentrando-se na sua relação com o fenômeno musical, fundamental em sua teorização sobre as técnicas de atuação no teatro. Stanislavski foi diretor do Estúdio de Ópera Bolshoi a partir de 1918. O diretor russo apoiava seu trabalho de ator e encenador fortemente na discussão sobre o papel do tempo e do ritmo na prática do ator. Existem também importantes partes de seu trabalho, principalmente o anexo do livro El Trabajo del Actor Sobre Sí mismo en el Proceso Creador de la Encarnación, que não foram traduzidos nas edições ocidentais e que serão aqui tratados.
Palavras-chave:
- A Mediação Teatral como Experiência Estético-Educativa
Ney Wendell
Doutorando em Artes Cênicas – UFBA
Resumo: Esta pesquisa está sendo desenvolvida no doutorado do Programa de Pós-graduação em Arte Cênicas da Universidade Federal da Bahia dentro da linha IV, denominada Dramaturgia, História e Recepção. A pesquisa é vinculada a esta linha devido a sua completa relação com a análise da recepção teatral, observando e focando mais os estudos sobre a mediação teatral no diálogo entre a obra e o espectador de um produto estético e educativo que é o espetáculo Cuida Bem de Mim. O espetáculo, ao longo dos anos se transformou no Projeto Cuida Bem de Mim e realiza diversas ações educativas com escolas públicas (oficinas, seminários, cursos, apresentação da peça, debates, pesquisas de impacto etc), efetivando o enfrentamento da violência através da metodologia teatral. A pesquisa traz um estudo sobre as metodologias de mediação teatral utilizadas pelo projeto, focalizando mais a realização de suas atividades no período de 2002 a 2007 com 14 escolas públicas de Salvador, Recife e Rio de Janeiro, através dos diversos materiais de pesquisas disponibilizados pela organização não governamental Liceu de Artes e Ofícios da Bahia, onde se desenvolveu o Cuida Bem de Mim até 2008. O tema escolhido da mediação teatral se vincula aos processos de recepção da obra e mostra as estratégias estéticas – pela escolha da arte como método – e educativa – pelo objetivo de facilitar o aprendizado de alunos e professores sobre o enfrentamentos da violência e a construção do afeto nas escolas. Este processo está presente nas ações educativas realizadas antes (preparação), durante (apropriação) e após as apresentações da peça (reverberação) dentro das escolas e no próprio local de apresentação. No final desta pesquisa se terá um conjunto de métodos de mediação teatral construídos a partir da experiência do Cuida Bem de Mim e re-orientadas para serem utilizados com outros espetáculos teatrais. Os educadores em geral poderão trabalhar com a mediação em sala de aula, ampliando-se em novos instrumentais pedagógicos e possibilidades de resultados educativos diferenciados pela abordagem teatral.
Palavras-chave:
- Entre o “tradicional” e o “novo”: reflexões sobre a montagem teatral um momento argentino.
Olívia Camboim Romano Universidade Regional de Blumenau – FURB
Resumo: Este trabalho visa, através da análise do processo de criação de Um momento argentino, refletir sobre as possibilidades de levantar um espetáculo pautado em um texto escrito previamente, utilizado no sentido “tradicional” de transposição da escritura do texto para uma escritura cênica, e, concomitantemente, concretizar uma encenação “nova” em que o texto da representação em si é o realmente significativo. Um momento argentino foi produzido na disciplina Prática de Montagem I do Bacharelado em Teatro da FURB, no segundo semestre de 2008, sob direção de Olívia Camboim. O autor do texto, Rafael Spregelburd, é considerado um dos grandes nomes da “nova dramaturgia argentina”, escrita por artistas provenientes da cena e que escrevem a partir desta e integrante do “teatro off e experimental”, ambiente mais importante do teatro argentino na atualidade. A obra foi composta no calor da crise política e econômica que abalou a Argentina no início desta década, em 2002, detona temas relacionados aos direitos humanos, à ditadura militar, ao “panelaço” e a queda do governo do presidente De La Rúa. No espetáculo, dois casais de militares argentinos e a filha de um deles recebem o público em um espaço reduzido e intimista para ver as fotos feitas em uma suposta viagem de férias. A partir dessa situação inquietante, em que ficção e realidade são entrelaçadas, um jogo de convenções é estabelecido e este constrói sentidos que entra em colisão com o sentido comum do que se vê. A encenação se construiu a partir de um processo de pesquisa fundamentada na experimentação dos detalhes da interpretação do ator, na relação entre atores e espectadores, na exploração do jogo entre ficção e realidade e na revisão e traçado de paralelos possíveis entre o país em que vivemos e os temas levantados no âmbito ficcional. Nesse contexto, o texto escrito serviu como pretexto e estimulante do jogo explorado pelos atores, escolhido pelos temas que suscita e não pela história que conta.
Palavras-chave: “Tradicional”; “Novo”; Encenação.
- A cinza das horas nos anos noventa
Paulo Vieira
Resumo: Os últimos dez anos do século XX foram marcantes para o teatro paraibano. Aconteceram grandes espetáculos que modificaram de maneira radical a cena e até mesmo o pensamento sobre a prática teatral. Foi um momento de retorno de artistas que se ausentaram de João Pessoa durante a década de oitenta, que trabalharam e estudaram teatro em centros mais avançados, principalmente o Rio de Janeiro e São Paulo, e que ao fim de alguns anos retornaram à cidade de onde haviam partido. Foi sobre a cinza das horas do século vinte que nasceu um novo teatro na Paraíba. Antes disso, o teatro estava assentado sobre uma sólida base folclórica, enquanto cena, e sobre vagos conceitos sobre o trabalho de ator, a sua preparação e sua técnica específica. Quando se deu o retorno dos que partiram, surge uma onda de grandes realizações estéticas que provocaram um ardente e apaixonado debate sobre a cena contemporânea. Começa a surgir um teatro mais ligado a urbanidade, ou mesmo um teatro que tem o campo como temática, mas um teatro que relativiza o folk em nossa tradição cultural e, mais importante que tudo, um teatro preocupado não apenas com a realização de espetáculos, mas com a formação do ator. Dessa preocupação, surge e necessidade de criação de um curso de formação de ator em nível de bacharelado, substituindo o antigo curso de educação artística, coisa que somente irá acontecer nos primeiros anos do atual século.
Palavras-chave: