Algo-Ritmos: novas fronteiras na documentação performativa
Os avanços nas áreas de tecnologia, teoria da informação, modelagem computacional e displays multissensoriais imersivos nas últimas duas décadas, posicionam a noção de corpo-como-arquivo sob novas perspectivas, especialmente no que diz respeito às práticas performativas. Com o advento de novas tecnologias de captura de movimento, de plataformas digitais interativas, da inteligência artificial, de realidades mistas e aumentadas, vemos crescer distintas possibilidades para as abordagens e registros do corpo cênico. Esses olhares abrem caminhos para diferentes experiências e modos de pensar sua condição criativa, de notação e registro, bem como facilitam o desenvolvimento de processos e experiências que o aproximam de um estado desmaterializado, corporificado com sistemas inteligentes e tecnologias digitais/virtuais.
O atual momento histórico testemunha uma confluência de tecnologias do imaginário – uma rede etérea e movediça de valores e práticas compartilhadas concreta ou virtualmente – e tecnologias computacionais e de informação. Isso viabiliza um debate sobre o corpo-como-arquivo, pensando, em novos termos, registro e análise do conhecimento tácito e corporificado, histórias orais e corporais, imaterialidades, aquilo que é volátil e fluido.
Nesta direção, Jacques Derrida nos aponta, em seu ensaio “Archive Fever”, que os arquivos fazem um movimento em direção ao futuro tanto quanto em direção ao passado. O que é arquivado e como algo é arquivado depende das premissas tecnológicas do futuro e, por isso, o arquivo é um movimento processual. Será que espaços digitais e virtuais, que são, de fato, mais um lugar de poder, a já temida face do futuro, seriam capazes de acolher e cuidar de tal proposta?
Deste modo, podemos colocar em movimento a própria ideia de documentação. Isto é, debater o conceito de arquivo, seu estatuto como verdade imutável, seu frequente alinhamento a epistemologias dominantes, como as coloniais e ocidentais. Urge reconhecer, também, outras formas de inventários de saberes, como se vê nos rituais, techné e práticas artesanais.
Essa edição temática encoraja escritas colaborativas e interdisciplinares, que abram diálogos produtivos para uma ampliação dos campos de pesquisa em artes da cena. Artigos podem partir dos seguintes temas:
- Novos paradigmas em sistemas de notação corporificada (Motion Capture, Câmeras Volumétricas, Realidades Aumentadas, Sistemas Hápticos…);
- Guerrilla tecnológica em performance;
- Hacking, glitching e outras táticas tecno-poéticas;
- Corpo-como-arquivo e processos decoloniais em práticas arquivísticas;
- Metodologias híbridas de documentação e escritas do corpo em pesquisa acadêmica;
- Co-evolução humana-tecnológica nas artes da cena;
- Processos de tradução entre diferentes mídias.
As submissões se dão em fluxo contínuo e as orientações se encontram aqui.
Raquel Scotti Hirson
Coordenadora Associada do LUME – Núcleo Interdisciplinar de Pesquisas Teatrais – COCEN – UNICAMP